Nesta quarta-feira ( 08/03/2017 ) o MC pernambucano Diomedes Chinaski, em parceria com o MC nativo do interior paulista Coruja BC1, lança o single ” O Aprendiz ” cuja a produção é assinada pelo beatmaker Bolin, conhecido também pelo seu trabalho com o grupo de rap do ABC paulista “3 Pilares”.
Em um momento em que o rap discute a volta dos olhares aos problemas sociais, a questões de representatividade racial, qualidade poética e o resgate aos valores que margeavam a produção do final da década de 80 e começo da década de 90 no brasil, “O Aprendiz” se coloca como uma das peças para a reflexão da produção contemporânea.
O instrumental por si, traz a referência dos boom baps da golden era, com caixas marcadas, graves presentes ao mesmo tempo comedidos, e “chops” curtos de samples que parecem vir de sessions de Jazz, tudo em matemática harmonia.
Diomedes, através de subjetivas metáforas, explica como sua visão inteligente da realidade que o cerca e sua paixão pela arte assim como seu apetite e orgulho de suas origens, o fez conquistar o reconhecimento do público de rap de todo país, ao mesmo tempo contrapõe sua produção ao Rap que tem se despolitizado gradualmente, aos mc’s quem andam devendo pra caneta, questionando a hierarquia dada por um gênero que há algum tempo tem flertado com mainstream, em alguns casos de forma irresponsável.
Coruja BC1 vem ácido como sempre! Com indiretas diretas, timbre e flow agressivo, o MC volta a questionar a qualidade de outros poetas, reforçando seus valores no que tange ao papel a se desempenhar como mestre de cerimônia. O paulista reafirma seu compromisso com a sobriedade ( não só ao que se relaciona ao uso de drogas ) e importância da discussão sobre o tema sobre um outro olhar, utilizando-se de referências inteligentes.
“O Aprendiz ” levanta questões as quais devemos nos debruçar por alguns momentos, acima de tudo de maneira crítica. De que maneira o resgate há alguns temas naturais ao rap tem que ser feito? Devemos entender que a aproximação de outros públicos ao gênero, foi, ou não foi, uma conquista da classe? Qual a responsabilidade do MC com o público em formação? Estas e outras questões ainda pedem outros versos e outros pontos de vista, entretanto, é inegável que o trabalho de Diomedes representa o grito legítimo de uma cena que merece reconhecimento, é inegável que o trabalho de Coruja BC1, discute o peso e responsabilidade que é empunhar uma caneta, é inegável que Diomedes, Coruja, Baco, Rincon, Djonga, BK, Froid e tantos outros, vieram mostrar que a favela vive, e que poetas estarão no topo, que depois deles alguma coisa mudou e há de continuar a mudar e isso companheiro ” não tem volta mais “.