3030 facilmente é um dos grupos mais originais do rap nacional, se projetando muito bem na cena, conquistou o Brasil e realizou grandes feitos, como a popularização do rap acústico. Vitor Virax, membro do Canal RapRJ realizou uma interessantíssima entrevista com o grupo, abordando temas que caminham do novo álbum até pensamentos religiosos. Confira:
Vitor Virax: Todos falam da peculiaridade do 3030 que caminha da Bahia para o Rio, onde o grupo realmente começou ? Como foi este contraste de sair de um lugar com uma cena pequena e ir para talvez a segunda maior cena do brasil. Comente um pouco de como é/era a cena de Arraial D’Ajuda/Bahia e qual a sonoridade do rap de lá.
3030: Na verdade o grupo se iniciou no Rio mesmo, na época em que a cena tava morta. O Rod já morava no Rio e o LK tinha acabado de voltar, depois de morar na Bahia por mais de 15 anos.
No Rio tinha pouca coisa, tinha o CIC na Lapa e é só. Mesmo assim na época eles não abriram espaço pra gente tocar lá.
Não existia uma cena de rap em Arraial d’Ajuda também e muito menos grupos de Rap. Em se tratando de sonoridade, tem muito da Bahia em geral no nosso som; nas melodias, na musicalidade e na energia.
Vitor Virax: Um dos grandes fatos que colaboraram para o crescimento do rap carioca foi as CCRP’s (rodas culturais), comente como foi a relação com a de botafogo, que foi a primeira ? Sei que por volta de 2012 havia um pacto em que os rappers teriam que compartilhar os sons dos envolvidos na roda, gostando da pessoa e da música ou não, deixando de lado ego’s e pensando na cena. Comente sobre isso.
3030: Depois que o CIC acabou, começou a rolar a Roda da Lapa, ou já rolava em paralelo talvez. Lá se concentrava uma parte da galera da cena carioca da época; a galera da Zona Sul começou a se movimentar e organizou a roda de Botafogo. A gente tava lá também desde o início como fomentadores, na época com o coletivo Amalgama. Foi uma experiência foda, principalmente quando chegamos a colocar 2mil pessoas num desses eventos da roda. A partir daí, os grupos frequentadores começaram a se organizar e o rap carioca começou a criar sua cena independente, a partir daí muitos grupos se destacaram , e na época realmente havia uma união maneira e um combinado de que todos deveriam divulgar os lançamentos de todos, isso criou uma rede forte e ajudou a fomentar a cena no seu início.
Vitor Virax: Sobre ego’s e rap da Bahia: Qual opinião de vocês sobre as polêmicas diss como sulicídio e afins ? vocês que estavam em uma cidade interiorana da Bahia, acharam válido ou desnecessário tal fato ?
3030: Foi o jeito que eles encontraram pra chamar atenção. A gente não concorda, não pelo objetivo da música, mas sim pela energia que ela propaga, atacando outros mc’s. Observamos também que muitos outros mc’s de fora do eixo obtiveram sucesso sem usar de métodos como diss, mas cada um com sua missão.
Vitor Virax: O álbum “Entre a Carne e a Alma” veio em um momento perfeito para apostar no trap, visto que ainda não tinha estourado no Brasil. Apesar disso, vocês optaram por fazer algo mais boombap/orgânico e sem participações. Neste novo álbum (Alquimia) já trouxeram um trapsoul com o Cartier e grandes participações como MV Bill e Emicida. Agora vocês pretendem se projetar de maneira mais “comercial” ?
3030: No “Entre A Carne E A Alma” a gente quis ser respeitado pela nossa arte e só. Não teve nenhum apelo comercial, a gente gosta sempre de surpreender então a gente achou que seria legal vir daquele jeito naquela época; foi uma vontade de mostrar nossa cara mesmo, sem participações e tal. No Alquimia também idealizamos um álbum conceitual, ele tem algumas coisas na tendência mas mesmo assim de forma conceitual, como por exemplo “Desde O Início”. Com o álbum “Alquimia” a gente encerra uma trilogia que começou com o “Quinta Dimensão”, que foram trabalhos voltados pro nosso lado musical e espiritual. No próximo álbum, que já estamos trabalhando, vamos buscar outros rumos.
Vitor Virax: Há pouco o cypher “saturou”, agora o que está saturando é o acústico. Como é carregar o nome de um dos grupos que o popularizaram, realizando de maneira tão contundente ?
3030: A gente se orgulha de ter popularizado o Acústico.
Quando a gente começou, buscamos algo original, e não tinha ninguém fazendo rap com violão, então a gente começou porque achamos que trazia a originalidade e a brasilidade que a gente queria pro grupo; o Acústico foi só uma consequência. Hoje em dia acabou se tornando uma opção barata é interessante, por isso se difundiu tanto a ideia de rap acústico. Aproveitamos pra dizer que depois do Alquimia, nosso próximo disco não vai ser mais focado no violão, como dissemos antes, a gente curte contrariar as tendências sempre de certa forma.
Vitor Virax: O que aconteceu com o projeto “Outra Lei” ? Acabou ?
3030: O projeto Outra Lei infelizmente acabou, sem nenhum motivo claro, simplesmente não foi pra frente.
Vitor Virax: Como foi o processo de “Recrutamento” de mc’s do Novo Egito ? visto que o Froid e o Rodrigo Cartier não são do Rio de Janeiro. Como é o processo criativo/produtivo do selo/gravadora ? conte-nos um pouco do dia a dia.
3030: Sobre o Novo Egito, a gente costuma trabalhar com projetos específicos. No caso do Froid, fizemos “O Pior Disco do Ano”, os próximos trabalhos dele já não serão pelo selo. Com o Cartier, vamos lançar o primeiro EP dele mês que vem , se chama “O Infinito do Nada” e provavelmente vamos fazer outros projetos do Cartier depois. Fora isso, estamos recrutando uma nova artista pro selo. Nosso processo de recrutamento é simples; basta a gente acreditar no artista e que ele(a) tenha algo em comum com a gente pro trabalho fluir. Não queremos fazer carreiras efêmeras. Queremos ajudar a dar base a grandes artistas pra se estabelecerem.
Somos um selo que também trabalha como uma forma de consultoria, passando todo o caminho das pedras que aprendemos no rap, das rodas de rima até o Mainstream.
Vitor Virax – Vejo que vocês levam a música muito a sério, como uma ferramenta de transformação, talvez até como um karma. Como vocês se veem no âmbito social, comparados a profissões “comuns” ?
3030: Pra gente a música é a grande parada da transformação ! Através da música você consegue dialogar com as pessoas muito bem. A gente se vê muito nessa função, tentar passar alguma coisa construtiva nas musicas e poder usar da nossa influência positivamente.
Vitor Virax: A espiritualidade está muito presente em suas músicas, qual o posicionamento de vocês ? Qual religião seguem/simpatizam ?
3030: Nós não temos religião. Seguimos o preceito do Amor e da busca sempre pela evolução. Todas as religiões contam verdades, porém acreditamos estar num momento que a não divisão é necessária. Somos um independe de rótulos.
Vitor Virax: Eu, em nome do Canal RapRJ agradeço a atenção e essa saudável troca de ideia. Espaço aberto para considerações finais !
3030: Obrigados vocês que tem sempre fortalecido o 3030 como o rap nacional. Gostaria de mandar um grande salve para todos os fãs e simpatizantes do grupo e avisar que em breve tem muita coisa boa vindo por aí, tamo junto !