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Curitiba começa o ano muito bem com “Carta Branca”, clipe de Mano Cappu e Zidane sobre a violência policial na periferia

Mano Cappu, 31 anos, é um rapper criado na vila Diadema II – CIC, região periférica de Curitiba. Músico e palestrante, o curitibano foi encarcerado injustamente durante 18 meses por imprudência policial. Toda essa vivência agora é compartilhada com o público por meio da música, com o lançamento do clipe  “Carta Branca”. A parceria com a Grafo Audiovisual retrata em letra e imagem a ação truculenta da corporação nos bairros periféricos. A montagem e finalização ficou por conta da Cripta Produções  e a direção, de Betinho Celanex.
O clipe conta a história de 4 diferentes jovens perseguidos por não aceitarem a violência gratuita com a qual são tratados durante o que deveria ser uma “abordagem  de rotina”. O intuito do clipe é levar esse assunto ao debate, afim de buscar junto as autoridades uma solução pra esse problema, que afeta diretamente a população, principalmente a população negra periférica. Segundo o Instituto Brasileiro de Ciências Criminais, a população carcerária é majoritariamente formada por homens, jovens e negros, 64% do total. Cerca 80% dos presos respondem por delitos de duas naturezas: drogas e patrimônio.

O lindo audiovisual contém imagens do filme ‘’Nóis Por Nóis’’, dirigido por Aly Muritiba e Jandir Santin que estreia este ano e vocês podem conferir o trailer contundente e visceral agora:

Zidane nasceu em Cascavel e 8 anos depois foi morar em CWB. Descobriu o Hip Hop em 2005 através de seu primo Smurf, do Tatuquara, que grafitava e era b-boy. Segundo Zidane, ele era inseguro, tímido e introspectivo, mas já sabia que para se inserir no meio social onde cresceu, ele precisaria ser bom em um dos elementos do Hip Hop e essa seria sua salvação.  Em 2010, diferente do que normalmente é esperado da cena do Hip Hop, Adalto Pires e o Pastor Rogério Abriram as portas da Comunidade Reviver para Zidanne e seus amigos e foi assim que ele conheceu a célula da rima. Os elogios começaram a surgir e hoje seu trabalho com o rap visa ativar pessoas, mantendo um vínculo de amizade e proporcionando novos horizontes. Segundo ele, muitas da pessoas com quem teve contato em todo este tempo, hoje são bons Mc’s, músicos, produtores, ex-viciados que foram recuperados, líderes… E este é o maior fruto do seu trabalho: transformar a vida das pessoas com o rap, o mesmo que aconteceu com ele! Atualmente, Zidane participa do grupo, junto com Du, e já tem 2 álbuns no pente para sair a qualquer momento.

Cappu deu início à carreira solo em 2014, com a Mixtape “Não Pare Agora”. Após vivenciar na pele o despreparo nas ações policiais, tanto em abordagem quanto em execução de suas funções, o rapper achou que deveria, através do rap, dar voz a tantas outras pessoas que se encontram em situação prisional, sem terem cometido os crimes pelos quais foram acusados. Sua caminhada emocionante é contada na Mixtape e a faixa “Chorona” retrata o ano de 2011, no qual o músico foi transferido para a mesma cela que o pai, também encarcerado e essa união proporcionou cura e vontade de vencer.

Em 2017, após 6 anos de injustiça, Cappu foi absolvido em juri popular de todas as falsas acusações que imperavam sobre sua vida. Essa vitória veio seguida da abertura de seus caminhos para os variados talentos do artista. Em 2016, Mano Cappu fez uma participação na série da TV Brasil “Nóis Por Nóis”, dos cineastas Aly Muritiba e Jandir Santin e também teve duas faixas na trilha sonora da série. Em 2018, produziu o roteiro e protagonizou o clipe de “Enquanto Ainda Houver Tempo (Prod. Dj Caique)” que conta com vocais de Caligari, Rashid e Primeiramente.

A violência policial é assunto presente no Hip Hop deste os primórdios,  com destaque para o clássico do N.W.A.’s, em 1988, “Fuck tha Police”. De lá pra cá, outros inúmeros rappers abordaram a temática: Ice Cube’s faz inúmeras referências em seus dois primeiros álbuns,  sobre a violência policial contra jovens negros. Outros exemplos são “Cop Killer” de Ice T., “Illegal Search”  de LL Cool J, 2Pac’s “Violent”  “Trapped”e “Holler If Ya Hear Me”, “99 Problems” do Jay-Z, Lauryn Hill com “Black Rage (Sketch)”, “Runnin’ From tha Police”  do 2Pac, The Notorious B.I.G. e Stretch. Recentemente, Kendrick Lamar’s aludiu a violência e o preconceito racial em seu disco To Pimp A Butterfly, no qual a faixa “Alright”  tornou-se hino do movimento Black Lives Matter.
No Brasil, o grupo Racionais escancarou a questão por meio do disco Sobrevivendo ao Inferno, que traz a faixa “Diário de um Detento”, escrita por Mano Brown e pelo ex-detento Jocenir. A faixa aborda o Massacre do Carandiru (em 2 de outubro de 1992,  111 presidiários foram mortos pela polícia durante uma rebelião). Outros exemplos são RZO em “O Trem”,  Planet Hemp em “Porcos Fardados” e Rappin Hood em “Sou Negrão”, que retrata o preconceito racial e a estigmatização do negro periférico como bandido.
Todas essas referências existem pois esta é uma questão que influencia diretamente toda a população. Num momento em que o silêncio pode ser visto como conivência, a coragem de falar sobre uma realidade dura e cheia de injustiças merece relevância e  respeito. O Hip Hop, há muito tempo, é a voz de personagens invisibilizados e marginalizados socialmente, tem finalidade educadora, combativa.
Aqui no Brasil também! Principalmente porque, segundo matéria da Carta Capital, o Brasil é a terceira nação com maior número de presidiários. Uma pesquisa da Pastoral Carcerária,  mostra que o país está atrás apenas da China (1,6 milhão) e dos EUA (2,1 milhão) em população carcerária. São 725 mil detentos, a maioria encarcerada de maneira subumana, tendo seus direitos fundamentais extirpados, uma vez que a taxa de ocupação das prisões brasileiras é de 200% . Em resumo, estes locais tem capacidade para receber somente a metade dos condenados.
O hip hop tornou-se também forma de protestar também contra diversos assassinatos cometidos por policiais, como a faixa de J. Cole “Be Free”, que presta tributo a Mike Brown, assim como Game em “Don’t Shoot” (com Rick Ross, 2 Chainz, Diddy, Fabolous, Wale, DJ Khaled e outros). Jay Z lançou seu tributo aos assassinatos de Alton Sterling e Philando Castile, intitulado “Spiritual”.  Snoop Dogg e The Game  foram além e organizaram uma marcha pacífica em Los Angeles em memória dos jovens negros mortos e também à morte de policiais em uma manifestação em Dallas (todas ocorridas na mesma semana). A marcha, assim como a música de Cappu e Zidane, tinha a finalidade de promover o  diálogo como caminho para combater o racismo e a violência e evitar que mais vidas sejam perdidas.

Graffiti em homenagem a Sterling

É necessário pontuar que o país passa por um sério problema de encarceramento massivo focado diretamente na punição e não na reabilitação e ressocialização do encarcerado. Questão difícil de resolver, uma vez que lida com o poder público, legislativo e judiciário, além das corporações policiais para as quais falta treinamento adequado, a cultura da violência brasileira, o preconceito estrutural e social e diversas questões econômicas… Enfim, não existe uma solução mágica pra tragédia prisional brasileira, mas se faz urgente uma política descarcerizante.
Nos Estados Unidos o problema tem se mostrado tão colossal que foi retratado no documentário “A 13º emenda”,  pela Netflix, em 2016.
* Licença para um desabafo: Este documentário tem um impacto imenso no meu crescimento pessoal e realmente indico que todos assistam. Meu amigo Thiago indicou, pra que eu pudesse compreender melhor a questão do racismo estrutural, brutalidade policial e a exploração do capital humano pelo capitalismo moderno (algo que nunca senti na pele). É um grande exercício de empatia, principalmente pra outros, que como eu, são brancos e não vivenciaram nunca o racismo e todas as sérias implicações da cultura escravagista. Como sociedade temos um longo caminho, uma grande dívida histórica, uma alta necessidade de reparação (se é que isso é possível), necessidade de diminuição da desigualdade social, uma urgente necessidade de fazer valer os direitos fundamentais e igualitários de TODOS os seres humanos.
Cappu deixa claro não ser contra a corporação e sim, contra o despreparo com o qual muitos policiais são colocados nas ruas em situações de risco para ambas as partes e com resultados que podem ser vistos diariamente nos jornais e na mídia.
Em relação às prisões feitas injustamente, os dados ainda são inexistentes, porém quatro em cada dez presos não foram condenadas pelo Judiciário. São cerca de 292 mil homens e mulheres, os presos provisórios, que ainda aguardam julgamento (por muito mais que os 120 dias previstos na lei), informação do Infopen, o Sistema Integrado de Informações Penitenciárias. Muitos destes são inocentes como salienta a matéria do O Globo sobre as injustiças da Justiça Brasileira. Uma pesquisa feita em parceria entre Depen e o Ipea aponta que, em 37,2% dos casos de prisão provisória, os réus não são condenados à prisão ao final do processo.
No fim do ano passado, cerca de 200 pessoas marcharam pelo centro de São Paulo contra as prisões de Bárbara Querino, Marcelo Dias e Igor Barcelos, todos negros e presos injustamente. Outro exemplo da violência policial e ineficiência do sistema prisional é o caso de Rafael Braga, muitas vezes citado em letras do rap brasileiro. A questão é tão endêmica que hoje o país conta com a ajuda da organização mundial Innocence Project, que se dedica a inocentar pessoas presas injustamente por erros de condução das investigações. A organização já exonerou mais de 300 condenações injustas e os acusados podem relatar seus casos e pedir ajuda pelo site da associação.
Conheça mais sobre o trabalho de Mano Cappu nesta entrevista pro Jornal da CIC.
Contatos:

Rapper l Palestrante
+55 41 9 8470 – 0810
contatomanocappu@gmail.com

Assessoria:
assessoriacwblack@gmail.com

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