Parte importante da cultura hip-hop, sobretudo nos Estados Unidos, as barbearias são pontos de encontro para troca de ideias que vão muito além do corte da moda. A Koreia Barber Shop (KBS), por exemplo, é um desses espaços de vivência dos rappers de Jundiaí e principalmente de uma banca muito conhecida do rap nacional: a SoundFood Gang (SFG).
O nome do estabelecimento leva o apelido do dono, que pode ser considerado uma figura fundamental para o crescimento do hip-hop na cidade. Koreia é um dos fundadores da SFG e hoje, além de administrar a barbearia, lança a KBS Mixtape Vol. 1, seguida de uma próxima edição prevista para 2020, de acordo com o próprio.
“Foi muito da hora reunir a galera, todo mundo interessado e na mesma sintonia pra lançar esse trampo. Muito legal mesmo, ano que vem tem mais”.
Com 6 faixas, cada uma bem distinta da outra, o projeto conta com um time de peso: Nikito, Chinv, Blackout, Yung Buda, Zemaru, Callister, ManoWill, Max B.O, Nill, Febem, Chábazz e Kado. Nas produções, temos Emika, Crimenow, Tan Beats, Will Diamond, O Adotado e Sono TWS. Embora tenham afinidades, cada artista consegue trazer sua singularidade, conforme evidencia-se em breve análise da tape feita pelo Rap RJ.
1 – Koncept Kut
Abertura de mixtape tem que ser empolgante, se não já era. O swag da dupla Chinv e Nikito cumpre bem o papel de iniciar os trabalhos. O ponto forte desse som é a entrega e boa execução dos rappers dentro do estúdio. Cantada num show, é certeza de bate-cabeça.
“O mais foda desse projeto é saber que todo mundo pisou aqui de fato, seja pra tomar um café, fazer uma tattoo, um corte… Quem veio aqui pegou uma visão diferente e essa pluralidade de opiniões que é massa, significa que o pico fez a diferença pra pessoa”, completa Nikito.
2 – Bitcoin
A música mais alucinada do disco, sem dúvidas. Blackout e Yung Buda convidam seus fãs a embarcarem numa viagem regada a trap, psicotrópicos, criptomoedas e videogames. Daria um ótimo clipe.
“Essa mixtape é tipo um presente pra mim. A KBS é muito importante pra SoundFoodGang, principalmente pro Yung Buda. Koreia é meu irmão e fico feliz de poder honrar essa família, o bagulho aqui é muito real. Foi gratificante pra caramba, fiz com gosto e é sempre bom fazer música assim”, relata Yung Buda.
3 – Medo
A mudança de sonoridade fica mais evidente na terceira, com o discurso forte de Zemaru, que pisa no acelerador sem dó quando pega no mic.
“Saí da minha zona de conforto, rimei num beat que eu não estava acostumado, mas o resultado foi incrível. Zica demais colar com essa galera, me sinto muito honrado”, diz o rapper.
O contraponto é a voz macia de Callister. Doce e suave, mas sem perder o papo reto. Aos inimigos, gastrite.
“Colei em Jundiaí pra gravar umas tracks com o Nill e depois surgiu o convite para participar da KBS Mixtape. Quando eu descobri que ia fazer o feat com o Zemaru, fiquei muito feliz. Ele é um cara muito foda, humilde, gosto demais dele. Podem esperar que vai ter mais som dessa dupla!”, afirma Callister.
4 – Real Chave
Se cada disco é uma história, este é o capítulo do meio. Max B.O, relíquia do rap nacional, mostra que nunca se desaprende a jogar o jogo. Enquanto isso, Mano Will rouba a cena com o refrão e a clássica expressão “Já Num Sabe”. A sonoridade cria uma atmosfera bem gangster, reforçada pelo delivery dos dois MCs.
“Colar com o Max B.O foi sensacional, sem palavras mesmo. E a KBS é isso aí, irmandade, família mesmo, muito além de uma barbearia. É um estilo de vida”, diz Mano Will.
5 – Lib
A quinta música traz de volta o ritmo mais calmo, com Nill e Febem afiados na caneta. Apesar dos momentos de desabafo, a mensagem final é positiva: valorize e lute pelo que te faz bem. Ligue o Foda-se bem alto para o que vier a te atrapalhar. Nill teve papel crucial na mixtape. Dirigiu todo o projeto, rimou na penúltima canção e ainda fez o beat da mesma. Camisa 10 e faixa.
“Foi correria, mas deu tudo muito certo, ainda fizemos uns registros das nossas vivências aqui em Jundiaí também, ficou da hora”, completa Nill.
6 – Gotham
O encerramento é sombrio e direto, assim como a batida, que tem uma pegada mais boombap. Chábazz e Kado não poupam referências e usam com inteligência o jogo de palavras. A canção é um misto de relato, desafogo e protesto da dupla.
“Agradeço ao Koreia pela oportunidade, isso me deu um incentivo importante pra minha carreira. Agora eu tô no gás e quero produzir mais coisas, ouçam aí porque o bagulho tá doido”, finaliza Kado.
A KBS Mixtape, embora curta, é bem trabalhada e agrada a diversos tipos de fãs de rap. Uma boa pedida para quem gosta de ouvir a música até dizer chega, porque o repeteco é garantido. Que venha o próximo volume!