Um dos fundadores da 1 Kilo, o cantor e compositor Pablo Martins inicia seu novo projeto com MCs que residem na região Sul do Brasil, denonimado Água Salgada. Com distribuição da Altafonte Brasil, a ideia é apoiar artistas locais e revelar novos talentos a nível nacional.
No primeiro single, Vai Além, apresentam-se os rappers PD, Marcílio Filho, Pedrin, Kalango e DJ Coala, todos residentes de Santa Catarina. A música, acompanhada de um videoclipe com pegada praiana, foi lançada no último Dia dos Namorados.
” É um projeto que uniu pessoas com diferentes perspectivas, mas que sabem atuar em harmonia. Uma nova vertente de música nacional que surgiu em meio a essa toda nova onda que o mundo passa. Uma mistura de gêneros focada na riqueza de melodias e harmonias da MPB, com a pegada rítmica mais atual do R&B, soul, timbres do rap como o 808, tendo uma linguagem mais aberta a um novo senso. Eu já tinha trabalhado com Pedrin, PD, Kalango e Pablo, mas em situações diferentes. O Dj Coala foi uma peça que agregou muito com todo seu conhecimento e, junto com a academia de beats, fez tudo ficar muito maior”, diz Marcílio Filho.
Ele explica que o mercado no Sul do país, apesar de ser um grande consumidor da cultura hip-hop, privilegia artistas de outros estados. Marcilio afirma que a região enfrentou muita repressão cultural nos anos 70 e 80, quando o Brasil era governado pela ditadura militar, o que afeta o setor local até hoje.
“Ainda é difícil de se ter investimento e aí mesmo a cena sendo aquecida, os MCs locais ficam sem muita esperança de conseguir algo sólido. Hoje, os novos artistas inconscientemente criam uma barreira por conta da repressão cultural sofrida no passado, e poucos têm a ousadia e persistência de se opor. Ter um projeto dessa relevância como o Água Salgada na região faz com que o mercado consiga, de fato, fazer apostas aqui e ter nomes de grande expressão e relevância na música, faz surgir mais pessoas e tornar isso real. A música do Sul tem nomes importantes para o cenário nacional como Ellis Regina, Armandinho, Dazaranha e é uma responsabilidade enorme mostrar essa nova identidade através do rap.”
Confiante na possibilidade de virar este jogo, Pablo Martins acreditou no talento dos cinco artistas envolvidos no projeto, que também alerta para questões ambientais, sobretudo em relação às praias e mares.
“O objetivo é mostrar cada vez mais o valor da arte produzida no Sul do país. Dar visibilidade aos artistas e produtores do Sul, da América do Sul e levar pro mundo, para que cada vez mais a gente se influencie por outras linguagens e a arte produzida aqui ir ganhando novas dimensões. O Água Salgada é também um projeto que busca dar visibilidade às questões ambientais das praias e mares, atentando o público do rap para estas questões”, conta Pablo.
Filho da cantora Fátima Regina, que já trabalhou com grandes nomes da música brasileira, como Roberto Carlos e Cauby Peixoto, o rapper não nega ter influências da veia artística da mãe. É um frequentador assíduo de estúdios e ambientes musicais e artísticos, uma benção para quem vive de música.
“Desde sempre, ela me levava pra estúdios, espaços que frequento desde os 6 anos de idade. Minha mãe é mesmo uma grande influência na minha carreira, sempre me incentivando e apoiando, além de me levar sempre com ela. Cássia Eller, Charlie Brown Junior, Caetano e Djavan são influências fortes na minha carreira.”
No final de abril, Pablo lançou seu segundo EP solo, Menino Damáfia, com todas as faixas assinadas por ele, assim como a produção e direção artística. O projeto tem participações especiais dos colegas da 1 Kilo, além de Anchietx, Helio Bentes e Lary.
Nota-se que é com a música que ele prefere dialogar. Perguntado sobre as polêmicas envolvendo o nome da 1Kilo, o artista é discreto. Prefere deixar os problemas para que os advogados resolvam.
“Eu continuo trabalhando, fazendo música e deixo os advogados cuidarem de qualquer situação que os Mcs digam ter em relação aos trampos com a 1Kilo”, resume.
Mesmo com o público comentando até hoje sobre o assunto, ele também acredita que não sofreu com a cultura do cancelamento. O cantor pensa que as redes sociais não refletem a realidade.
“São movimentos do mundo atual, que não podemos controlar. As redes não transmitem o que de fato acontece, as negociações, as buscas por soluções e acaba que muitas pessoas usam isso para ganhar relevância. Sigo fazendo o que faço de melhor: música.”
Concentrado em suas produções artísticas, o fundador da 1Kilo fala um pouco sobre os planos para o futuro e lamenta a pandemia do novo Coronavírus. Entre as ideias, novos sons com RastaBeats e um projeto batizado de O Amargo Mundo.
“Esse ano estou bem focado no meu projeto solo Menino Damáfia e em produzir os sons na 1Kilo que, embora eu não esteja na formação nova de shows, jamais vou deixar de fazer parte porque faço parte da criação. Vamos produzir também novos sons pra RastaBeats que esse ano vem com uma estrutura bem independente. Além de estar envolvido em projetos que acredito que vão trazer bastante inovação pra cena também, que são Água Salgada e O Amargo Mundo. É um momento triste esse da pandemia, muita coisa já mudou e vai mudar para o mercado da música e eu estou buscando me adaptar da melhor maneira a esse novo tempo.”