Vinis do James Brown, o tênis do rapaz que dançou o primeiro break na Esquina Democrática e a caixa de som de um rapper gaúcho que já se apresentou em palcos europeus estão entre os objetos que podem virar artigo de museu em 2022, literalmente. O primeiro Museu da Cultura Hip Hop que se tem notícia no país deve ser construído na Zona Norte de Porto Alegre.
“Queremos fazer um ponto de encontro, com a ancestralidade negra, com a ancestralidade periférica do Rio Grande do Sul. E lugar vamos fazer que nossa história seja contado por nós mesmos, não pelos outros”, comenta Rafuagi, coordenador de Autogestão e Sustentabilidade da Associação da Cultura Hip Hop.
Nâo se restringindo às exposições, teremos um ambiente para realização de atividades culturais, como shows e palestras. Integrantes da Associação da Cultura Hip Hop, o secretário municipal de Administração e Patrimônio, André Barbosa, o secretário adjunto Jorge Hias e o vereador Giovane Byl (PTB) visitaram nesta terça-feira (22) o imóvel que será cedido pelo município, na Rua Parque dos Nativos, na Vila Ipiranga. Ali ficava a Escola Estadual Oswaldo Aranha até 2018, prédio que foi devolvido ao patrimônio do município e está ocioso. Barbosa quer assinar o termo de permissão de uso ainda no mês de julho.
A inspiração para o museu gaúcho vem do distrito do Bronx, onde está sendo construído o Museu Universal do Hip-Hop de Nova York. Rafa relata que agora está sendo feito um trabalho de pesquisa para montar o acervo gaúcho. Para contemplar não apenas o gênero na Capital, mas também em Pelotas, Esteio, Canoas, Passo Fundo, Caxias do Sul, Bagé e outras tantas cidades que tem um histórico no hip hop.
“Estamos fazendo pesquisa de campo com o Instituto Fidedigna, que vai nos dar um diagnóstico do hip hop no Estado, abrangendo mais de 200 cidades. Conseguindo novos patrocinadores, vamos além, para contemplar as 497 cidades“, comenta Rafa Rafuagi.
O hip hop surge na década de 1980 no Rio Grande do sul, fruto de bailes black, com grupos como Jara Musisom e Big Boys, da Restinga. Rafa destaca que o marco zero da cultura se deu na Esquina Democrática, como é chamado o cruzamento da Rua dos Andradas com a Avenida Borges de Medeiros, no centro de Porto Alegre.
“Os b-boys (breakdancers), os DJs, os MCs, os grafiteiros se encontravam ali para dançar, fazer rima, trocar ideia. E esse movimento surge em meio à ditadura: já descobrimos nas pesquisas que eles foram corridos muitas vezes pela polícia“, conta Rafa.
A associação e outros movimentos envolvidos na realização do museu pretendem coloca no ar, em outubro, um site com o resultado da pesquisa da história do Hip Hop, e, após toda a reforma no imóvel, fazer ainda neste ano uma espécie de “chá de casa nova”, para já ir aproximando a comunidade. Contando com o apoio de empresas, da prefeitura, do governo do Estado e até da Unesco, a inauguração deve sair em 2022.
Rafa garante que até quem acredita conhecer toda a história do hip hop no Estado vai se surpreender, e fala sobre um desafio do museu:
“A gente quer criar a cultura da galera gostar de museu. Quando se fala museu para o jovem, o cara fala: ‘bah aquele negócio parado’. A gente quer um museu interativo, tecnológico, urbano, dinâmico e com uma linguagem de fácil acesso tanto para o jovem que se identifica, quanto para o adulto que não faz muito gosto da cultura hip hop, mas vai conhecer e vai se encantar”, diz Rafa.
O sonho dos integrantes da Associação da Cultura Hip Hop, os mesmos que criaram em Esteio a Casa do Hip Hop em 2017, é que o museu gaúcho sirva de exemplo para outros Estados, para que no futuro se construa um museu nacional.