A pandemia escancarou o racismo e a desigualdade social no Brasil, onde negros são a maioria dos mortos por covid-19. Além disso, dados de 2019 apontam que a morte de pessoas negras em operações policiais foi 130% maior que a de brancos. É contra esse cenário que os artistas paraenses Jenni Velozo e Salgado MC, que formam o Ori, protestam em “O Grito”, colaboração da dupla com o produtor musical Selektah Nubeat. A canção chega com videoclipe no próximo dia 15 de julho no canal do Selo Kizomba no Youtube.
Sobre o conceito da música, Jenni explica: “É sobre a dura realidade que nós e todos os moradores da periferia vivem. A letra traz relatos de vivências relacionadas à violência, péssimas condições de atendimento na área da saúde e outras questões que contribuem para as exclusões sociais. Nela, também trazemos à tona a pauta da luta antirracista. Ou seja, a letra é uma crítica e também fonte de empoderamento para mudanças”, diz.
Para construir a sonoridade que embala o grito de protesto, Selektah Nubeat une elementos do rap, reggae e música eletrônica, inspirado pelo ritmo londrino Dub Step. “É interessante notar que a música tem um momento de virada, onde o som fica mais forte e intenso. Isso ocorre na mesma hora em que a Jenni está cantando a parte mais pesada da letra. Não foi algo combinado, mas mostra como casou bem as características da batida com a letra”, conta.
O videoclipe de “O Grito”, que segue formato de animação com a letra da música, é uma realização de Daniel Ops e da Ditôca Studio. O trabalho é a primeira colaboração do duo Ori com Selektah. Além dessa gravação, os artistas têm outra canção preparada para ser lançada nos próximos meses. “Gravamos duas músicas, a primeira é essa, mais política e necessária para o momento que vive o país. Na próxima, viremos mais pop, sem perder de vista essa questão da exaltação de nossa ancestralidade e negritude”, diz Salgado.
Sobre os artistas
Jenni Velozo é mulher negra, mãe, estudante de psicologia, trancista e vocalista da MusicArte e do Ori. Natural de Belém, ela já tem carreira consolidada na cena artística local, passando por eventos acadêmicos, da prefeitura, e apresentações em teatros, bares e manifestações políticas, como a Marcha das Mulheres Negras. Em 2015, fundou a MusicArte, com quem já lançou o single “Liberdade” e prepara o lançamento do primeiro EP do projeto, intitulado “Grito Ancestral”. A banda ainda é formada por Jessi Costa (guitarrista e violinista), Jeanni Velozo (violonista) e Juliane Ferreira (violonista e baixista).
Já Salgado MC é poeta e compositor desde 2015, já tento atuado em diversos movimentos como batalhas de MCs e sarais de poesia. Em 2016, ele lança o single “Essa é a verdade”, quando, juntamente com o coletivo Manga City, abre o show dos rappers Djonga e BK na capital paraense. Em 2018, em parceria com a GangueTR, divulga o álbum “A Febre do Rato”, dedicado à luta antirracista. A parceria com Jenni Velozo vem um ano antes, quando iniciam o projeto autoral denominado Ori, além da parceria com a MusicArte.
Allan Casimiro, mais conhecido como Selektah Nubeat, iniciou carreira musical em 2012, como DJ em festas de Castanhal, onde nasceu no bairro Nova Olinda. O trabalho avançou e, em 2016, o artista fundou o selo Kizomba Groove para produzir artistas do rap e fomentar a cena independente local. Versatilidade é a marca do produtor, que já tem mais de dez trabalhos gravados. Só em 2021, ele já lançou o álbum de reggae “Cultive”, que conta com o clipe da faixa “O Amor”, em parceria com o cantor e compositor Dudu Urband, e os videoclipes “De Lá”, com o rapper castanhalense Kratos, e “La Busca”.