Fechado após o incêndio em 2015, o Museu da Língua Portuguesa, em São Paulo, terá em 31 de julho de 2021 o retorno às suas atividades. Dentro da programação, o videoclipe de uma canção que aborda sobre a descolonização da língua ganhou destaque no novo acervo do Museu.
“Meu Bairro, Minha Língua” propõe em seus versos a redescoberta de nossas raízes, heranças culturais e relações históricas, por intermédio de vozes potentes desses artistas de países que falam a língua portuguesa, como Portugal, Brasil e Cabo Verde.
“A música fala de reconexão e reconstrução de laços e também do pensamento de uma nova lusofonia, sobretudo no período da pandemia, quando muitas vozes ecoaram por direitos ainda não conquistados”. Anuncia o compositor Vinicius Terra, que é rapper da Pavuna (bairro periférico do Rio de Janeiro), ativista cultural e professor de português e literatura.
Vozes consagradas do universo da CPLP (Comunidade dos Países de Língua Portuguesa), como Elza Soares, Linn da Quebrada, Sara Correia, Dino D’Santiago, além do próprio Vinicius Terra, participam da iniciativa.
“O empoderamento da sociedade civil se dá por meio de iniciativas como o Vidas negras importam e o movimento LGBTQIA+. Todos ligados por uma narrativa de pensar a memória afetiva por intermédio da língua e de seus bairros de origem”, destaca Vinicius.
A música, produzida à distância devido à pandemia da COVID-19, conta com videoclipe, um documentário e uma websérie (contendo 8 episódios, já disponíveis em www.youtube.com/viniciusterrabr ) sobre o processo criativo da canção.
“A proposta de criarmos uma música colaborativa era sair do Brasil para encontrar com outros artistas em países como Portugal, Cabo Verde e Angola. Não foi possível devido à pandemia, mas ao mesmo tempo conseguimos gravar, produzir e até concluir a websérie com 8 episódios tudo à distância”, complementa o artista.
Além da transmissão no Youtube, a websérie foi exibida na RTP África (canal de tv com alcance em Portugal e em todos os países de língua portuguesa do continente africano). Após o lançamento da canção/videoclipe a websérie ganhará também transmissão no Canal Futura e no Globoplay.
A música “Meu Bairro, Minha Língua” estará disponível nas plataformas digitais em 30 de julho, 1 dia antes da reabertura do Museu da Língua Portuguesa.
“Esta música representa um processo de reaproximação, de intercâmbio de ideias sobre aquilo que se perdeu na travessia do Atlântico e o que precisamos descolonizar para sentirmo-nos representados na língua portuguesa. Ter o timbre da rainha Elza misturada à voz da nova revelação do fado Sara Correia, ou do meu mano Dino D’Santiago e sua perspectiva caboverdiana com a maravilhosa Linn da Quebrada numa letra que compus é pra mim de uma alegria sem tamanho. É o regresso à Pavuna em contato com periferias urbanas de nosso idioma. É como se estivesse no Capão Redondo, Kova da Moura, Quarteira no mesmo segundo dentro de cada verso.” – afirma o idealizador do projeto.
Os bairros da língua portuguesa são o foco de percepção das mudanças no idioma e como cada artista local compreende e percebe a questão linguística e ao mesmo tempo a memória afetiva de seu bairro de origem em suas criações.
“Meu Bairro, Minha Língua” encara justamente os envolvidos no projeto como heterônimos; porta-vozes da língua viva. Afinal, o português é o idioma que ao longo dos tempos adaptou-se a múltiplos falares de outras regiões além-mar e o que o torna vivo é o falar do povo, desses diversos lugares; seja aldeia, seja vila, seja bairro.
“É do bairro que surgem os artistas locais – que possuem orgulho e valorizam suas origens e ao mesmo tempo apontam sua música para o mundo, tendo a nova lusofonia como poderosa ferramenta de integração entre os povos com o recurso do idioma. Da mistura de nações e raças é que a música deixa de ser brasileira ou portuguesa, por exemplo”, conclui Vinicius Terra.
A música conta ainda com a colaboração do duo português Lavoisier e a produção musical da cantora Mahmundi e do percussionista Gabriel Marinho. O videoclipe, a websérie e o documentário foram dirigidos por Victor Fiúza (diretor do clipe “Ok Ok Ok”, de Gilberto Gil e de documentários como “Racionais MC’s: Uma História Musical” e “Quatro Dias Com Eduardo”). O projeto foi patrocinado pela EDP Brasil.