Quando se pensa em um lançamento musical, obviamente, a música é a grande estrela. Entretanto, os singles dividem espaço, e até chamam mais atenção, quando atrelados aos videoclipes. E não é de hoje que o audiovisual faz parte. Nos anos 90, programas como o Disk MTV eram referência. Na época, o YouTube ainda não coroava aqueles que somavam milhões e até bilhões de views, eram os charts da televisão que indicavam os melhores vídeos.
O consumo de audiovisual mudou, a qualidade dos clipes mudou: estão cada vez mais cinematográficos, com efeitos diferenciados. E, talvez, mais do que nunca, são tão aguardados pelos fãs quanto às músicas de seus artistas preferidos.
O Youtube, régua muito citada pelo mercado atual, multiplicou sua força durante a pandemia. Afinal, os artistas precisaram se reinventar amplamente por estarem impossibilitados de fazer shows. E diante desse contexto, onde clipes de encher os olhos fazem tanto sucesso, os videomakers ganharam destaque. Entre eles, Thiago Selau, gaúcho de apenas 19 anos que vem conquistando a cena do rap nacional.
Recentemente, Selau foi convidado pelo Haikaiss para roteirizar, dirigir e editar um dos clipes mais aguardados do momento. Thiago assina o audiovisual de King Kong, single que rendeu ao grupo o recorde no Guinness Book. Spinard mandou a rima mais rápida do mundo com 226 palavras proferidas em 30 segundos, e superou a marca de Eminem em “Godzilla” (2020).
Durante entrevista para o Aldeia Cast, Spinard revelou que a equipe do Haikaiss havia optado por uma grande produtora para tocar o projeto, porém, eles não abriram mão de trabalhar com Selau. “Esse moleque é um gênio, talvez eu seja multado por falar isso. Quando nos apresentaram o projeto era para ser um valor muito alto para um produtor de tal artista, mas nós escolhemos esse moleque por causa do teaser do lançamento do álbum Inferno de Kant. Nós olho pra aquilo e disse: tem que ser esse moleque. Não tem que ser o produtor de beltrano, de fulano. Tem que ser esse moleque”, contou o rapper dono do spidflow mais rápido do mundo que ainda agradeceu a Batalha da Aldeia por ter descoberto Thiago Selau no Rio Grande do Sul.
E na verdade, a história de Selau começa bem antes da BDA trombar com ele em Porto Alegre. Thiago foi descoberto mesmo pelo já extinto grupo de rap gaúcho $ifra. Os MCs encontraram alguns trabalhos de Selau ainda para o funk na internet.
“A $ifra viu um clipe que fiz para um coletivo de Gravataí, cidade onde me criei. E então, eles me convidaram para somar com o projeto. Desde essa época, fiz vários clipes para o grupo. Até que o Bob e o Andrade foram gravar com os guris, conheceram meu trabalho, e uma porta ainda maior se abriu”, relembra Selauzinho, que chegou a ganhar o apelido de sub-17, pois nessa época ainda era menor de idade.
O “menorzin”, inclusive, começou cedo. Aos 15 anos, Thiago Selau iniciou a carreira trabalhando com um dos profissionais mais renomados do Rio Grande do Sul, o fotógrafo Everton Rosa. “Minha família tem um estúdio de fotos. Sempre estive no meio desse universo, fazendo fotos e vídeos de casamentos, 15 anos. Nunca me vi fazendo outra coisa, apesar de que lá no início também não imaginava cair no meio do rap. É incrível ter a oportunidade de trabalhar com artistas tão talentosos”, conta.
HIRO MURAI, DAVE MEYERS E AWGE SÃO REFERÊNCIA
Autodidata, Thiago combina todo cuidado, sensibilidade e inovações necessárias da captação à edição das imagens. Ele conta que nunca fez algum curso específico, mas que é muito curioso para aprender.
“Sempre estive muito atento ao trabalho dos meus irmãos fazendo vídeos de casamentos, fui indo nos eventos junto com eles e aprendi muito sobre como me comportar e manejar os equipamentos. Fui me interessando muito pela liberdade de trabalhar como bem entender nos clipes e aprendendo tudo pela internet, vendo tutoriais e vídeos por trás das cenas de grandes produções”.
Devido ao interesse por novas técnicas de mercado e por desenvolver suas habilidades, Selau não demorou a chamar atenção por seus resultados harmônicos, atemporais e de impacto.
“Gosto demais do trabalho de Hiro Murai e como ele se inspira em artes de fora pra externar nos vídeos. E o Dave Meyers pra mim é o melhor, por todo seu tempo na indústria e criando as obras com os visuais mais impactantes na minha opinião, o conjunto inteiro do trabalho dele pra mim é uma referência. Também sou fã do coletivo criativo AWGE, que nasceu na ASAP MOB e criou obras visuais que me viciam até hoje. Tenho certeza que o mundo criativo dos clipes teve um antes e um depois deles”, afirma Selau.
EQUIPAMENTOS
Antes mesmo de captar as imagens, Thiago Selau já pensa em como vai editá-las. “Procuro pegar o melhor ângulo e a melhor sequência para aplicar um efeito depois, por exemplo”, explica. Por desenvolver esse estilo, mesmo sem os recursos mais avançados do setor, Thiago já conseguiu resultados incríveis.
“Os primeiros clipes que assinei foram com as câmeras de entrada da Canon, uma Rebel T3i. E quando consegui juntar a primeira quantia de dinheiro, logo comprei uma Sony a6300 e tenho duas até hoje. A diferença é que agora, eu tenho a liberdade pra alugar equipamentos específicos de acordo com a necessidade de um clipe. Normalmente, trabalho com uma Blackmagic Pocket 6K Pro. Foi uma evolução em um período de tempo bem curto”, conta.
HAIKAISS, KANT, LIVINHO, BDA E MAIS SONHOS
No portfólio, em menos de três anos de atividade, Thiago Selau já reúne trabalhos para Haikaiss, Livinho, Mikezin, Kant, Batalha da Aldeia, $ifra. Além disso, conta com o suporte de diversos artistas que comentam cada publicação de teaser e making off que ele posta em seu Instagram (@selauthiago). E daqui para frente, os sonhos são grandes.
”Eu quero fazer de tudo, espero que ainda tenha a oportunidade de assinar uma série ou filme. Eu não quero me limitar em nenhum ramo. Assim como artistas como Dave Meyers, quero estar fazendo o que gosto até não poder mais. Deixar um impacto e ser uma inspiração assim como muitos foram pra mim. Isso é o que importa, sair de uma cidade pequena e fazer a diferença. Nos meus vídeos, eu quero que a pessoa sempre fique instigada a ver cada vez mais e mais, que tenha uma profundidade na obra final. Quando estava começando, eu tinha muito medo de ficar nas sombras do que meus irmãos já fizeram. Então, o desejo de me destacar e alcançar novas fronteiras cresceu junto comigo desde o início”.